segunda-feira, 27 de junho de 2011

Em nome do Pai - primeira parte


Se todas as coisas foram criadas por um ser supremo e único, seriam todas elas diferentes, provindas de uma mesma fonte? Em nome do pai todo o universo foi feito, e o que há nele assim se fez. Ao mesmo tempo em que são diferentes, as coisas também são iguais. O que diferencia uma e outra coisa é apenas o grau de evolução ou a maneira pela qual foi projetada. Dou-lhe exemplos: os três estados físicos da água: sólido, líquido e gasoso; as três condições do carbono: pedra bruta, grafite e diamante; as três dimensões do homem: a matéria, a mente e o espírito; as três essências de Deus: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Percebemos nestes exemplos acima que muito do que existe está particionado em três, ou pode estar em um dos três estados ou condições; pode também funcionar a tríade em conjunto: é o caso do exemplo do homem e de Deus. De todas as coisas criadas é o homem e Deus os mais próximos em essência e funcionamento.

Daqui em diante podemos comparar, exceto Deus, todas as outras situações descritas, por semelhança de estado, e depois poder-se-á comparar as coisas que são parecidas por particularidade de funcionamento.

Do carbono, da água e do homem podemos concluir um estado bruto, um estado mediano e um estado mais sutil: do carbono, a pedra bruta; da água, o gelo; do homem, o corpo. O estado bruto pressupõe uma grosseria do estado em que tal coisa ou matéria está condicionado. Dos três objetos apenas o primeiro pouco serve; dos três apenas o gelo pode ser produzido artificialmente por qualquer pessoa, sem prejuízos; o primeiro já vem pela natureza e o terceiro poucos o sabem fazer.

Dos três objetos, o primeiro só interessa porque contém em si a essência para formar objetos de maior valor e utilidade. Assim é que sua serventia não está em si mesmo, mas no que pode produzir: o grafite e o diamante. O segundo sempre interessa em si mesmo, mas pode mudar de estado facilmente, se assim aprouver a quem o contém (do gelo para a água líquida e a gasosa); o terceiro pode ser melhorado gradativamente, no dia-a-dia, o qual não interessa mudança de estado, mas trabalho em conjunto( o corpo, a mente, o espírito).

São assim semelhantes os três objetos pelos três estados aos quais podem estar condicionados, sendo comparados um a um em semelhança com os seus três possíveis estados, em ordem se sutileza ou serventia; se a pedra bruta do carbono pouco serve, a grafite, estado mediano, porque não é bruta, mas frágil, serve muito mais, e com ela escrevemos no papel, e não interessa que mude de estado, porque é melhor trabalhável do que a caneta tinteiro. Da água em estado líquido, mais sutil e servente do que a pedra, porque é solvente universal e muito serve a todas as coisas, embora não se misture com tudo, mas em praticamente tudo está presente; a mente coordena a realidade para o corpo e o espírito, servindo como mediador entre este e aquela. Pode ser comparada em sutileza pela água e pelo grafite, mas em fragilidade por este último. Daqui não refletirei maiores explicações, por ser assunto que concorre aos médicos e estudiosos da mente.

Concorre à mesma medida os três últimos estados de cada um dos três objetos comparados, em sutileza: o gás (água em estado gasoso), o diamante e o espírito; o primeiro, que movimenta o ciclo da água, porque a trás novamente limpa; o segundo, em raridade e beleza, sendo a mais dura pedra existente já lapidada pelo homem; o terceiro, pelas faculdades que contém, e o especial fato da comunicabilidade com a divindade. Dos três, estão mais próximos em sutileza a água e o espírito; em matéria, a pedra e o gás; em necessidade, o espírito e o gás.

Cumprindo essas afirmativas, talvez incertas, chego ao objetivo máximo deste trabalho: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Não pode ser comparado a qualquer das coisas exceto pelo homem, num único sentido de que as três essências de cada um deles podem funcionar ao mesmo tempo juntas e independentes, com a ressalva de que, para o homem, essa independência não pode ser total, sem o qual não pode ele mesmo continuar a ser um homem, no sentido em que conhecemos, mas que pode ele mesmo sobreviver na ausência temporária de algum destes elementos, e sob certas condições controladas.

Partindo pelo mais compreensível, o homem, nas três partes constituídas, a matéria bruta, a mente mediadora e o espírito que é mais sutil, afirmo, sem pretensão de autoridade que, em estado de coma apenas a matéria participa do processo ativo e visível, onde a mente e o espírito não estão conscientes para os observadores comuns. Faço aqui uma ressalva para o aspecto religioso, que acredita na atividade espiritual, mesmo nesse estado. Aqui é matéria para o próximo capítulo, se houver condições para isso. Em estado de sono o corpo descansa, enquanto a mente organiza as ideias e fatos ocorridos no dia-a-dia. Com a morte do corpo não há mais atividade visível entre corpo e mente. Da parte de Deus e do espírito, e ainda sobre a mente, pelo lado mais espiritual, será tratado na segunda parte deste trabalho, por ser matéria digna de maior labor e respeito. Se por hora tratei desses fatos de maneira superficial, foi para um estado preparatório, para só então discutir sobre o que levou-me a fazer este texto, o estudo sobre a essência trina de Deus, e a justificativa do título: em nome do Pai. Até a próxima. Logo postarei a segunda parte do texto.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

TODOS IGUAIS

Como pôde sair e bater a porta, e não me dar satisfações? Fiquei murmurando estas palavras em meu coração, ao mesmo tempo em que gritava para o mundo ouvir: “ela não pode ir, assim, e me abandonar, ‘porque nós dois somos iguais’, e inseparáveis”. Repeti a frase por mil vezes, como se fosse um mantra, uma tentativa de convencer meu ego de que não acabou o que havia entre mim e ela.
Conheci a Clara quando trabalhava em uma escola. Eu era professor e ela atuava como coordenadora do colegiado. Nos apaixonamos com uma brevidade de tempo que parecia a mais rápida canção que já cantamos um para o outro – o parabéns pra você – no nosso aniversário de um ano de namoro. O tempo passava e resolvemos que nos casar.
Todo o universo torcia para que fôssemos um casal feliz. Até mesmo os invejosos faziam uma corrente positiva, porque eu e ela éramos iguais mesmo. Tínhamos o mesmo temperamento, as mesmas ideologias, altura e peso semelhantes, morávamos perto um do outro, sempre tirávamos notas excelentes em matemática, eu gostava de escrever poesias e ela fazia contos. Poderia fazer uma lista imensa de semelhanças entre nós. Não poderia dar errado. Nos respeitávamos sempre e todos os problemas da escola resolvíamos juntos.
De tudo, o mais admirável em nós era o temperamento. Clara não levava desaforo pra casa e nem aceitava ficar em desvantagem nas situações. Eu era do mesmo jeito. Por isso, optamos em nos amar.
Três meses depois de casados, ela resolve que vai a uma festa que iria acontecer próximo a um bar. Era na vizinhança, mas eu não poderia ir, pois iria trabalhar cedo no outro dia. Ela insistiu que sairia de casa, mesmo sem mim, porque estava a fim de ir à festa e pronto. Foi nossa primeira discussão. Argumentei que lá não ia ter gente boa, e eu não estaria por perto para defendê-la. Ah, como eu amava aquela mulher! Tantos homens tinham inveja dela, de sua beleza e inteligência!
Admito que, mesmo sendo nossa primeira discussão de casal, caprichamos bem na briga. Ela me ditou palavras ofensivas e quase quebrou um jarro em minha cabeça. Desviei e ele pegou na parede. Esconjurei a pobre de tantos nomes, que os vizinhos pararam de varrer só pra ouvir a conversa. Gritávamos muito um com o outro. No fim de tudo, ela saiu sem dizer aonde ia. Talvez à festa. Provavelmente eu estaria, nessa hora, sendo traído sem ter ideia disso. Quem sabe eu também já tenha sido infiel, desejando a professora que trabalhava na mesma escola que eu, só porque ela era mais atraente?
Fiquei inconformado em meus pensamentos, e repetia para mim mesmo e todo o mundo, não deixando em paz os meus vizinhos, que ela cometeu uma injustiça. Vi uma sombra perto da porta. Não era ela. Simplesmente eu imaginava coisas, delírios casuais da falta dela. Eu me arrependi pela primeira vez na vida, de ter brigado com quem eu mais amei, e ali “dei o braço a torcer”, reconhecendo a idiotice das minhas palavras duras e sem pena.  Dormi sem saber a hora, e no cochilo da noite, enquanto a festa acontecia lá fora, eu pensava: “Como pôde sair e bater a porta, e não me dar satisfações? Ela não pode ir, assim, e me abandonar, ‘porque nós dois somos iguais’, e inseparáveis”.


PAUTA PARA O BLOÍNQUÊS, 72 ª EDIÇÃO MUSICAL, COM O FRAGMENTO "PORQUE NÓS DOIS SOMOS IGUAIS" (EQUALIZE, PITTY)

AMADA THAÍS


Amada Thaís,
 Venho novamente lhe interpelar para que atente para as minhas palavras, porque a nossa última conversa não foi concluída. Sei que sou um sujeito muito difícil, pois só aceito ideias que possam ser racionalmente provadas. Já lhe disse que sou um homem de ciência e de fé. Hoje, farei diferente: quero lhe convencer de algo que não pode ser comprovado pela ciência, mas é possível que se faça verdadeiro pela razão.
Acontece que você não acredita que eu te amo de verdade, e eu posso garantir, com poucos argumentos, que isto é verdadeiro. Você, Thaís, me diz que esse papo de amor é conversa de homem que deseja apenas o proveito libidinoso da parceira, e contra isso não consigo afirmar que você está errada. Mas, se observar as minhas atitudes, perceberá que sou diferente. Quem ama cuida, diz a tradição, e você bem sabe que outro dia, quando adoecestes, eu lhe fiz visita e ainda levei o remédio correto para sua recuperação. Tanto cuido que sei todas as coisas que você pode fazer ou não, os remédios que não deve tomar... O amor é paciente, e quanto a isto deves admitir a paciência que tenho em lhe esperar, e todos os dias dizer, das mais variadas formas, que eu te amo. Amo em versos, e minhas poesias bem sabem disso! O amor liberta, não é vaidoso, não tem ciúmes e enobrece a alma; queres uma alma mais nobre que a de um poeta apaixonado, que lhe escreve poesias, ou um homem mais liberal do que eu, quando nunca lhe proibi de viver sua vida, nem reclamei de ciúmes quando alguém lhe presenteou com flores, já que eu faço isso sempre?
Thaís, meu amor, eu iria até o infinito e voltaria, para dizer do amor que sinto por você, e passaria séculos argumentando e provando que te amo! Se eu quisesse só curtir, iria atrás de outra, porque há no mundo muitas mulheres fáceis e bonitas, mas você é muito difícil, recatada, reservada, inteligente, de ótima família e reputação e, acima de tudo, eu te amo há algum tempo, e não trocarei você por mais ninguém! Amorosamente terminando estas linhas, aquele que te ama.

De: um poeta eternamente te amando

PAUTA PARA O BLOÍNQUÊS - EDIÇÃO CARTAS: CONVENCER

O SONHO (IM)POSSÍVEL



Tenho um sonho a realizar
Hoje sonhei com ela
Isto me persegue sem parar
Sempre você de roupa amarela


No sonho eu te beijava
Você estava acordada
E tudo o que eu almejava
No fim da noite se acabava


Sozinho eu levantei
Sua falta senti, notei
Meu coração batendo forte
Eu me via sem um norte


E outra vez me deitei
E com você de novo sonhei
E você estava quando acordei
E meu sonho eu realizei!



PAUTA PARA O BLOÍNQUÊS - 41ª EDIÇÃO POEMAS, COM O TEMA: SONHO