domingo, 15 de maio de 2011

O SORRISO DE UM ANJO


Thaís era uma menina meiga que alcançava a idade de 12 anos. Seu amigo inseparável desde os seis anos de idade, Rodrigo, precisou se afastar dela para fazer um tratamento contra o câncer, que lhe afetava o pulmão. Ele tinha a mesma idade que Thais. A mãe de Rodrigo fumava e bebia desde a gravidez, e não parou nem mesmo quando seu filho nasceu.
Numa noite de chuva o menino acorda com muita dificuldade de respirar, sentindo muita dor no pulmão direito. Seus pais o levam desesperados ao hospital. Vem a triste notícia de que ele desenvolveu câncer de pulmão, o mesmo estava em fase avançada. Já tivera outras crises, mas nada grave, que motivasse exames específicos. Silenciosamente aquele menino aparentemente saudável tornava-se cada vez mais deprimido.
Passados dois meses, o cabelo de Rodrigo havia caído totalmente, e sua aparência nefasta era mais que isso. Não sorria. Todos os dias chorava. A única companhia de que poderia dispor era a amiga Thais, que ficava horas conversando e brincando com ele, numa frustrada tentativa de animá-lo a seguir com o tratamento.
O tratamento quimioterápico não fazia progressos, e a mãe também não dispunha de motivos para sorrir, culpando-se a cada segundo pela bruta irresponsabilidade de não ter cuidado direito da saúde de seu filho, entregando-se com mais amor aos vícios do que à sua prole.
Quando chegou ao hospital, Rodrigo não tinha recebido nenhuma visita. Nem mesmo de Thais. Ela foi uma semana depois, tão logo seus pais permitiram. Rodrigo esboça um primeiro sorriso. E o último que entregaria à amiga e aos seus pais dali em diante.
Thais passava o tempo pensando numa maneira de fazer seu melhor amigo sorrir e ter esperanças de cura. Ah! Se fosse descoberto a tempo... Aquela menina contemplava seu amigo de um jeito diferente. Seria amor? Não sabiam o que era aquilo. Um sentimento de fraternidade? Talvez. É mais certo assim. Contudo, Rodrigo não via o tempo passar, mesmo em tão bela presença. Thais – pensava ele – se eu tivesse tempo, lhe diria tantas coisas, muito lhe agradeceria.
Sem esperanças de alguma melhora, o menino recebe alta e vai para casa. Os pais tristes e inconformados. Ele, sem conforto algum.
De um estalo, Thais teve uma ideia. Quem sabe, se ele tivesse cabelo, ficaria mais animado, e não se envergonharia com sua aparência? Onde eu vou arrumar cabelo? – pensou. Ah, doarei um pouco do meu. Assim, ele sempre vai lembrar de mim! Vai ficar bonito! – disse, com lágrimas nos olhos. Sorria, enquanto cortava algumas mechas, escondida no banheiro da casa. Colocou-as no bolso frontal de sua roupa e pediu que os pais de Rodrigo o levassem para a sala. Seria uma surpresa. Nem os pais dele sabiam do que se tratava.
Quando Rodrigo e seus pais estavam chegando ao local combinado, sua amiga o aguardava. Os pais fizeram uma cara de espanto, misto de alegria e pergunta, enquanto o menino não compreendia nada. Ela pede que seu amigo tire o boné e coloca, carinhosamente, um pouco de seu cabelo na cabeça dele. Pronto, amigo! Agora poderá ficar mais bonito, e sair pelas ruas! Num gesto de retribuição, ele entrega a ela o boné, e os dois agora sorriem, pela segunda vez, desde que tinham conhecido um quarto de hospital.
Thais despede-se de todos, porque já era tarde. Abraça seu amigo e vai. Move a maçaneta da porta e olha, mais uma vez, aquele sorriso, eterno, inacabado. Fecha-se aquela porta e juntamente com ela muitas outras. Ao cair da noite, uma hora depois, ligam para a casa de Thais. Partiu para a eternidade aquele melhor amigo, que sorriu para ela, como num gesto de despedida, uma mensagem de adeus. Os pais de Rodrigo nunca mais foram os mesmos. Não viam mais a graça da vida, e Thais demorou muito tempo para se recuperar daquilo, mas sentiu que havia feito um anjo sorrir. Cumpriu sua missão.

                          Pauta para o bloinquês, 24ª edição roteiro

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