Minha irmã sempre gostou de ver o mundo com outros olhos, e por um ângulo diferente. Enxergava as coisas, pessoas e situações de um modo que ninguém mais poderia fazê-lo. Aos três anos de idade, um acidente em casa com produtos químicos fez com que ela perdesse a visão em um dos olhos. Permaneceu desmotivada da vida por um tempo, e já não via graça em muita coisa na vida.
Tivemos uma ideia: dar-lhe-íamos uma máquina fotográfica, para ensinar a ela que poderia ver o mundo e a vida de um jeito especial. Assim o fizemos e logo ela gostou tanto da aventura que se fazia fotógrafa em todos os ambientes. Por questão de apoio e aprendizado, comprei uma máquina para mim, e ela me ensinou como manuseá-la. Saíamos juntos a registrar as coisas belas da natureza, e sempre guardávamos para a posteridade.
Na estrada que vai da nossa cidade até a casa da nossa avó tem uma paisagem maravilhosa, com muitos animais, alguns até raros, ainda preservados. Outro dia, passando por lá, avistamos uma ararinha azul, ave que já se encontra em extinção. Aí minha irmã pediu que a gente parasse ali, no meio do caminho, para que ela pudesse registrar esse eterno momento. Concordei com a proposta e ela logo saltou do carro, sem me esperar, porque não poderia perder aquela oportunidade. Vi que outras pessoas estavam no local também. Uns observando e admirando, outro fotografando.
A foto mais espetacular da minha vida foi nessa mesma estrada. Minha irmã pôs-se alegre à beira do caminho, e como podem ver na foto que tirei, ela ficou tão radiante com a novidade do pássaro que deitou-se ao chão, curvou um pouco a cabeça para trás e, de cabelos soltos e pernas pro ar, fotografou enfim aquela ave rara. Mais rara foi essa foto. Simplesmente única. Inexplicavelmente linda. Acho que ela fez isso, porque, além de muito feliz, não sabia que eu estava com a máquina fotográfica na mão. Não hesitei o instante e registrei, eternamente, um pequeno exemplo de que minha querida irmã, de repente, havia mesmo aprendido a olhar a vida de um jeito todo diferente!
pauta para o bloinquês:
70ª Edição Visual - Projeto Bloínques.
E que suas palavras passem, e que o vento as carregue entre olhares carentes, ouvidos já surdos, para despetá-los.
ResponderExcluirE que suas palavras fiquem, se eternizem no tempo e espaço, no coração que as sentem, nas mentes que nelas refletem!
Abreijos!