sábado, 24 de setembro de 2011

PEQUENAS TOLICES

PARA "NESSINHA", ALGUNS SUSPIROS...

Eu queria ter o dom das palavras, mas elas dão-se em fuga quando eu as tento convencimento de infiltrar-se na minha busca/ senda que é o coração da minha amada. Perco-me em ventos rodopiantes e delirosos, sem um fim imediato, mas com uma desordem tal que as palavras que vertem da minha alma nascem no momento em que permito as desilusões deste meu ser em processo de autoconhecimento.



Temo não conhecer por completo uma simples fração do seu coração. Mesmo sabendo que uma milésima parte do meu eu não conheço, apenas cogito. Pequenas idéias me assustam e convidam docemente a visitar-te o pensamento e buscar no teu ser o conhecimento do bem e do mal, e o caminho mais curto para curtir a vida. Não encontrei esse caminho. Encontrei o amor.



Olho seus movimentos indecisos e tolos, na fuga que deliberas contra mim, e sei que tanto seria para mim prestimoso o dom das palavras, mas não o tenho; essencial tornar-se-ia saber um pouco do seu coração, mas não o sei. Leva-me embora o turbilhão de ventos que te afastou de mim, mesmo antes de chegares, mas o meu grito de amor e luz se faz paz em teu seio, e dormimos enamorados no brilho da lua, e abandonamos as vontades ao sabor do tempo, e beijando-te demoradamente, esqueço as suas, e renego as minhas, as nossas “pequenas tolices”.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Divagações



Pensando em "nessinha"

Pudesse navegar seu sentimento

Eu me acharia gritando sonhos

Voando alto

Ícaro me emprestaria o mais alto desejo

E em teu sol me queimaria

E dormiria para sempre

Em ti



Com tudo isso

O que me falta, afinal?

Sonhos perdidos

Na imensidão dos nossos olhares?

Não sei!

Falta-me o que desconheço

Exclui-se de mim o tempo!



Mesmo sem tempo

Busquei no mundo o belo

Mais belo que todo o belo

De mãos vazias retornei

Porque apenas você

De todas as coisas perfeitas

A mais bela que encontrei!



Penso em você todos os dias

E o dia todo me dedico a você

Porque o que se ama sempre se diz

E digo que te fiz poesia e amor

Sorriso, fé e esperanças

Porque és meu sonho de criança

Sonho que não se encontra em padaria!



Sonhar e pensar, no amor

No amor não há respostas

Apenas perguntas e pensamentos

Sentimentos em cadeia

Pois quanto mais eu penso mais te amo

Quanto mais te amo mais te penso

E penso que sou viciado em você!



O amor é uma palavra

Que quatro letras tem

Que aos sentidos mexem

Mesmo se sentido não tem

Sem sentido é a saudade

De passar a eternidade

Com alguém que não se tem!



Mesmo com tudo isso

Ainda que quase nada

O amor tudo suporta

E do outro não espera nada

Mas espero do meu amor

(do amor que nunca tive)

Sempre tê-lo ao meu lado!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Intertexto sertanejo





Que dizer dessa morte-vida sertaneja,
que apela para as chuvas e deseja o verde?
onde está o verde?
na esperança do povo...
como está o povo?
com fome e sede...
e agora José?
José degusta palma,
José olha o verde que não come,
o verde mandacaru....

folhas secas ao chão
cabeças no estradão
há mais chapéus sem cabeças...
e no sertão da espada
já houve tanta desgraça
e na morte há vida,
porque morte não há,
o que há é a sorte,
do povo que sofre,
sobreviverá...

Meu amor poético




 Para Vanessa ("nessinha")

Que seria do Amor,
não fosse livre pra voar?
mas nossos inconstantes
delírios o perdem
quando alça voo,
e buscamo-lo o amor mesmo,
entre as relvas da eternidade,
tão singular
e tão contrário,
o amor de Camões!

que seria de mim
não amasse você?
que seria do tempo
não pudesse se perder
na eternidade dos ventos
na infinitude do teu ser?
que poderia dizer
se te amo porque te amo
se o amor que o Padre abençoa
é simplesmente o amor de Pessoa?

NOSSO TEMPO



Para Vanessa (“nessinha”)



Ouço noturnamente as badaladas

De um velho relógio de parede

Que marca meu tempo acabando

Num compasso de passos sem fim

Perco-me entre os tic-tacs

Que os ponteiros batem-batem

Mais bate em mim a saudade

Do beijo que não te roubei



Pergunto para o relógio

Se o tempo que ainda tento

Encaixar na minha solidão

Um dia vai ser nosso tempo

De acertar o tempo do tempo

Do tic-tac do nosso coração

Que juntos batendo um dia

Em forma de poesia

Pergunta meu coração:

Por que perder-me no tempo

Quem nem mais eu sei se tenho

Quando posso encontrar-me

No infinito do seu olhar

Nas batidas do seu coração?

domingo, 21 de agosto de 2011

A NECESSIDADE DA FRAQUEZA DIANTE DE DEUS


 

Ouvimos de toda parte pessoas dizendo que não são nada, ou são menos que o nada, diante de Deus. Vamos pensar um pouco sobre esse assunto. Temos dois motivos para distinguir que foi o homem e não Deus que instituiu essa afirmativa. O primeiro deles, registrado pela religião, de que somos a imagem e semelhança de Deus; o segundo, que foi o próprio homem que, diante de Deus, afirmou a sua própria limitação e fraqueza.
Entendendo-se que, além de tudo, concebemos Deus enquanto necessidade do homem para explicar as coisas que existem e não são provindas do próprio homem, entendemos a idéia de fraqueza por dois motivos principais. O primeiro, justamente por conceber Deus o autor de acontecimentos que estão além da capacidade humana. Então somos mais fracos porque existe algo que estabelece coisas maiores que nós. É, portanto, um ser mais capaz que nós. Segundo, atribuir nossa fraqueza em relação a Deus é uma fonte de justificativa e apoio das nossas falhas. É uma necessidade psicológica e cultural. Um ser que nos compreenda e perdoe, e lance os dados para dar-nos mais uma chance de conserto das coisas.
Na essência, somos iguais a Deus, e ele nasceu a partir do nosso pensamento e necessidade de tê-lo. Fazer-se mais fraco do que a idéia que criamos é tão necessário para nós que instituímos tal fato como verdade absoluta, tanto que a própria idéia de Deus é a idéia mais forte da nossa mente. Até os ditos ateus pronunciam um “graças a deus” de vez em quando.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A INFINITUDE DE DEUS E A INPOSSIBILIDADE DE ENTENDÊ-LO




A reflexão que proponho hoje a meus leitores é a seguinte: do ponto de vista filosófico, num sentido mais amplo, o conceito trazido pela religião, sobre os atributos infinitos de Deus, poderia ofuscar nosso entendimento a respeito dele?
Talvez alguém vá pensar que eu seja um ateu confesso. Mas livro-me desse conceito por dois motivos: o primeiro é que, de acordo com Nietzche, a religião é mais importante do que não possuir religião nenhuma, porque tem-se posta uma ordem social com ela, que livra os seres humanos do caos, já que Deus é a ultima esperança de alcance dos seres humanos. O homem logo falha. Daí encontrarmos em deus a perfeição das coisas, e a esperança em um ser que, com certeza, nos ouvirá. Segundo, porque sempre necessitei de entendimento sobre as coisas não criadas pelo homem, que atingissem um patamar com alcance maior que o das ciências em geral.
Para começo de conversa sobre o tema, imaginemos que o infinito seja a nossa Via Láctea. Se o infinito precisa tomar conta da totalidade das coisas, um mínimo fragmento que lhe faltasse, retiraria do infinito essa propriedade; deixaria, portanto, de ser infinito. Se dele saísse para fora dos seus limites um grão de poeira, e pudéssemos conceber o vazio – sabendo-se que não o podemos – teríamos ali uma falha do infinito e, desse modo, o universo do nosso exemplo seria o todo sem a parte, e nenhuma delas – a parte ou o todo – seriam infinitas. Com esse raciocínio, se bem compreendido, poderíamos mencionar que seria muito difícil distinguir o nosso grão de areia, primeiro porque não se tornaria conhecido, tendo em vista de não ter se desprendido do espaço infinito em que estava e segundo, por estar mesclado a essas características do nosso exemplo de infinito. Não poderíamos, portanto, distinguir nem o grão de areia e nem o universo que o continha, porque eram os mesmos em si.
Agora eu pensei numa estória da chama de luz que, vivendo em meio à luz, não poderia ver-se e distinguir-se da luz. A chama vivia na luz, porque era a própria luz. Separando-se, retirou-se para a escuridão, e pôde perceber-se enquanto existência, e também notou que havia outra luz, que ocupava o infinito. Parece bem sensato inferir aqui a parábola de Deus e seu filho Jesus. Mas retornemos à segunda parte da discussão.
Faz-se pertinente explicar, depois de entendida a questão do infinito, porque essa idéia afastaria o entendimento completo de Deus. De acordo com o que já foi escrito, concebendo que Deus é infinito, então o mesmo ocupa todo o universo, que também é infinito, e tudo quanto nele há, primeiro por causa da idéia de que Deus criou tudo e todos, e do nada tirou o tudo; segundo, porque se tirássemos qualquer coisa do universo, este não seria mais infinito. A limitação do universo seria a limitação de Deus, que, portanto, seria finito.
Se Deus ocupa tudo, como poderíamos entendê-lo por uma oposição, sabendo que todo ele era tudo e uma coisa só? Claro deve estar que não estou negando essa idéia, mas que coloco em evidência o fato de que necessitamos, para entender um conceito, de outro que o oponha ou diferencie. Desse modo, o homem, ser finito diante do universo e de Deus, não pode conceber o infinito e nem a Deus. Mas ele pode, abstraindo-se do infinito, compreender a Deus pela diferenciação de si mesmo a ele, por dois principais motivos: o primeiro é que, saído do infinito e já limitado por si só – concebendo-o como ser separado da igualdade do infinito – poderia ver-se e caracterizar-se, para depois comparar-se com as características do infinito, que seriam logicamente distintas; depois, exteriorizando-se do infinito, este perderia uma parte de si, e seria, então, limitado. Sendo limitado o que antes era infinito, agora mais próximo do que é compreensível pelo homem, que é limitado e, desse modo, mais compreensível.
Assim, é necessário que o homem abstraia sua existência do infinito, como se estivesse olhando de fora, de cima, para que, aproximando Deus de sua natureza finita, e diferenciando-se dele por sua própria natureza, que já é limitada, possa entender-se e entendê-lo, e depois contextualizar-se no infinito novamente, para devolver a Deus a natureza infinita do qual é constituinte e ser, o homem mesmo, ser infinito, por estar impregnado de deus e este dele.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Em nome do Pai - primeira parte


Se todas as coisas foram criadas por um ser supremo e único, seriam todas elas diferentes, provindas de uma mesma fonte? Em nome do pai todo o universo foi feito, e o que há nele assim se fez. Ao mesmo tempo em que são diferentes, as coisas também são iguais. O que diferencia uma e outra coisa é apenas o grau de evolução ou a maneira pela qual foi projetada. Dou-lhe exemplos: os três estados físicos da água: sólido, líquido e gasoso; as três condições do carbono: pedra bruta, grafite e diamante; as três dimensões do homem: a matéria, a mente e o espírito; as três essências de Deus: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Percebemos nestes exemplos acima que muito do que existe está particionado em três, ou pode estar em um dos três estados ou condições; pode também funcionar a tríade em conjunto: é o caso do exemplo do homem e de Deus. De todas as coisas criadas é o homem e Deus os mais próximos em essência e funcionamento.

Daqui em diante podemos comparar, exceto Deus, todas as outras situações descritas, por semelhança de estado, e depois poder-se-á comparar as coisas que são parecidas por particularidade de funcionamento.

Do carbono, da água e do homem podemos concluir um estado bruto, um estado mediano e um estado mais sutil: do carbono, a pedra bruta; da água, o gelo; do homem, o corpo. O estado bruto pressupõe uma grosseria do estado em que tal coisa ou matéria está condicionado. Dos três objetos apenas o primeiro pouco serve; dos três apenas o gelo pode ser produzido artificialmente por qualquer pessoa, sem prejuízos; o primeiro já vem pela natureza e o terceiro poucos o sabem fazer.

Dos três objetos, o primeiro só interessa porque contém em si a essência para formar objetos de maior valor e utilidade. Assim é que sua serventia não está em si mesmo, mas no que pode produzir: o grafite e o diamante. O segundo sempre interessa em si mesmo, mas pode mudar de estado facilmente, se assim aprouver a quem o contém (do gelo para a água líquida e a gasosa); o terceiro pode ser melhorado gradativamente, no dia-a-dia, o qual não interessa mudança de estado, mas trabalho em conjunto( o corpo, a mente, o espírito).

São assim semelhantes os três objetos pelos três estados aos quais podem estar condicionados, sendo comparados um a um em semelhança com os seus três possíveis estados, em ordem se sutileza ou serventia; se a pedra bruta do carbono pouco serve, a grafite, estado mediano, porque não é bruta, mas frágil, serve muito mais, e com ela escrevemos no papel, e não interessa que mude de estado, porque é melhor trabalhável do que a caneta tinteiro. Da água em estado líquido, mais sutil e servente do que a pedra, porque é solvente universal e muito serve a todas as coisas, embora não se misture com tudo, mas em praticamente tudo está presente; a mente coordena a realidade para o corpo e o espírito, servindo como mediador entre este e aquela. Pode ser comparada em sutileza pela água e pelo grafite, mas em fragilidade por este último. Daqui não refletirei maiores explicações, por ser assunto que concorre aos médicos e estudiosos da mente.

Concorre à mesma medida os três últimos estados de cada um dos três objetos comparados, em sutileza: o gás (água em estado gasoso), o diamante e o espírito; o primeiro, que movimenta o ciclo da água, porque a trás novamente limpa; o segundo, em raridade e beleza, sendo a mais dura pedra existente já lapidada pelo homem; o terceiro, pelas faculdades que contém, e o especial fato da comunicabilidade com a divindade. Dos três, estão mais próximos em sutileza a água e o espírito; em matéria, a pedra e o gás; em necessidade, o espírito e o gás.

Cumprindo essas afirmativas, talvez incertas, chego ao objetivo máximo deste trabalho: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Não pode ser comparado a qualquer das coisas exceto pelo homem, num único sentido de que as três essências de cada um deles podem funcionar ao mesmo tempo juntas e independentes, com a ressalva de que, para o homem, essa independência não pode ser total, sem o qual não pode ele mesmo continuar a ser um homem, no sentido em que conhecemos, mas que pode ele mesmo sobreviver na ausência temporária de algum destes elementos, e sob certas condições controladas.

Partindo pelo mais compreensível, o homem, nas três partes constituídas, a matéria bruta, a mente mediadora e o espírito que é mais sutil, afirmo, sem pretensão de autoridade que, em estado de coma apenas a matéria participa do processo ativo e visível, onde a mente e o espírito não estão conscientes para os observadores comuns. Faço aqui uma ressalva para o aspecto religioso, que acredita na atividade espiritual, mesmo nesse estado. Aqui é matéria para o próximo capítulo, se houver condições para isso. Em estado de sono o corpo descansa, enquanto a mente organiza as ideias e fatos ocorridos no dia-a-dia. Com a morte do corpo não há mais atividade visível entre corpo e mente. Da parte de Deus e do espírito, e ainda sobre a mente, pelo lado mais espiritual, será tratado na segunda parte deste trabalho, por ser matéria digna de maior labor e respeito. Se por hora tratei desses fatos de maneira superficial, foi para um estado preparatório, para só então discutir sobre o que levou-me a fazer este texto, o estudo sobre a essência trina de Deus, e a justificativa do título: em nome do Pai. Até a próxima. Logo postarei a segunda parte do texto.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

TODOS IGUAIS

Como pôde sair e bater a porta, e não me dar satisfações? Fiquei murmurando estas palavras em meu coração, ao mesmo tempo em que gritava para o mundo ouvir: “ela não pode ir, assim, e me abandonar, ‘porque nós dois somos iguais’, e inseparáveis”. Repeti a frase por mil vezes, como se fosse um mantra, uma tentativa de convencer meu ego de que não acabou o que havia entre mim e ela.
Conheci a Clara quando trabalhava em uma escola. Eu era professor e ela atuava como coordenadora do colegiado. Nos apaixonamos com uma brevidade de tempo que parecia a mais rápida canção que já cantamos um para o outro – o parabéns pra você – no nosso aniversário de um ano de namoro. O tempo passava e resolvemos que nos casar.
Todo o universo torcia para que fôssemos um casal feliz. Até mesmo os invejosos faziam uma corrente positiva, porque eu e ela éramos iguais mesmo. Tínhamos o mesmo temperamento, as mesmas ideologias, altura e peso semelhantes, morávamos perto um do outro, sempre tirávamos notas excelentes em matemática, eu gostava de escrever poesias e ela fazia contos. Poderia fazer uma lista imensa de semelhanças entre nós. Não poderia dar errado. Nos respeitávamos sempre e todos os problemas da escola resolvíamos juntos.
De tudo, o mais admirável em nós era o temperamento. Clara não levava desaforo pra casa e nem aceitava ficar em desvantagem nas situações. Eu era do mesmo jeito. Por isso, optamos em nos amar.
Três meses depois de casados, ela resolve que vai a uma festa que iria acontecer próximo a um bar. Era na vizinhança, mas eu não poderia ir, pois iria trabalhar cedo no outro dia. Ela insistiu que sairia de casa, mesmo sem mim, porque estava a fim de ir à festa e pronto. Foi nossa primeira discussão. Argumentei que lá não ia ter gente boa, e eu não estaria por perto para defendê-la. Ah, como eu amava aquela mulher! Tantos homens tinham inveja dela, de sua beleza e inteligência!
Admito que, mesmo sendo nossa primeira discussão de casal, caprichamos bem na briga. Ela me ditou palavras ofensivas e quase quebrou um jarro em minha cabeça. Desviei e ele pegou na parede. Esconjurei a pobre de tantos nomes, que os vizinhos pararam de varrer só pra ouvir a conversa. Gritávamos muito um com o outro. No fim de tudo, ela saiu sem dizer aonde ia. Talvez à festa. Provavelmente eu estaria, nessa hora, sendo traído sem ter ideia disso. Quem sabe eu também já tenha sido infiel, desejando a professora que trabalhava na mesma escola que eu, só porque ela era mais atraente?
Fiquei inconformado em meus pensamentos, e repetia para mim mesmo e todo o mundo, não deixando em paz os meus vizinhos, que ela cometeu uma injustiça. Vi uma sombra perto da porta. Não era ela. Simplesmente eu imaginava coisas, delírios casuais da falta dela. Eu me arrependi pela primeira vez na vida, de ter brigado com quem eu mais amei, e ali “dei o braço a torcer”, reconhecendo a idiotice das minhas palavras duras e sem pena.  Dormi sem saber a hora, e no cochilo da noite, enquanto a festa acontecia lá fora, eu pensava: “Como pôde sair e bater a porta, e não me dar satisfações? Ela não pode ir, assim, e me abandonar, ‘porque nós dois somos iguais’, e inseparáveis”.


PAUTA PARA O BLOÍNQUÊS, 72 ª EDIÇÃO MUSICAL, COM O FRAGMENTO "PORQUE NÓS DOIS SOMOS IGUAIS" (EQUALIZE, PITTY)

AMADA THAÍS


Amada Thaís,
 Venho novamente lhe interpelar para que atente para as minhas palavras, porque a nossa última conversa não foi concluída. Sei que sou um sujeito muito difícil, pois só aceito ideias que possam ser racionalmente provadas. Já lhe disse que sou um homem de ciência e de fé. Hoje, farei diferente: quero lhe convencer de algo que não pode ser comprovado pela ciência, mas é possível que se faça verdadeiro pela razão.
Acontece que você não acredita que eu te amo de verdade, e eu posso garantir, com poucos argumentos, que isto é verdadeiro. Você, Thaís, me diz que esse papo de amor é conversa de homem que deseja apenas o proveito libidinoso da parceira, e contra isso não consigo afirmar que você está errada. Mas, se observar as minhas atitudes, perceberá que sou diferente. Quem ama cuida, diz a tradição, e você bem sabe que outro dia, quando adoecestes, eu lhe fiz visita e ainda levei o remédio correto para sua recuperação. Tanto cuido que sei todas as coisas que você pode fazer ou não, os remédios que não deve tomar... O amor é paciente, e quanto a isto deves admitir a paciência que tenho em lhe esperar, e todos os dias dizer, das mais variadas formas, que eu te amo. Amo em versos, e minhas poesias bem sabem disso! O amor liberta, não é vaidoso, não tem ciúmes e enobrece a alma; queres uma alma mais nobre que a de um poeta apaixonado, que lhe escreve poesias, ou um homem mais liberal do que eu, quando nunca lhe proibi de viver sua vida, nem reclamei de ciúmes quando alguém lhe presenteou com flores, já que eu faço isso sempre?
Thaís, meu amor, eu iria até o infinito e voltaria, para dizer do amor que sinto por você, e passaria séculos argumentando e provando que te amo! Se eu quisesse só curtir, iria atrás de outra, porque há no mundo muitas mulheres fáceis e bonitas, mas você é muito difícil, recatada, reservada, inteligente, de ótima família e reputação e, acima de tudo, eu te amo há algum tempo, e não trocarei você por mais ninguém! Amorosamente terminando estas linhas, aquele que te ama.

De: um poeta eternamente te amando

PAUTA PARA O BLOÍNQUÊS - EDIÇÃO CARTAS: CONVENCER

O SONHO (IM)POSSÍVEL



Tenho um sonho a realizar
Hoje sonhei com ela
Isto me persegue sem parar
Sempre você de roupa amarela


No sonho eu te beijava
Você estava acordada
E tudo o que eu almejava
No fim da noite se acabava


Sozinho eu levantei
Sua falta senti, notei
Meu coração batendo forte
Eu me via sem um norte


E outra vez me deitei
E com você de novo sonhei
E você estava quando acordei
E meu sonho eu realizei!



PAUTA PARA O BLOÍNQUÊS - 41ª EDIÇÃO POEMAS, COM O TEMA: SONHO

quinta-feira, 26 de maio de 2011

CADÊ O RESPEITO?


Passeando pelas ruas
Outro dia eu vi
Um homem estranho
Que andava por ali
Com seu carro importado
Não era pobre coitado


Abriu o vidro e jogou
No chão um papel de bala
Fiquei com vontade de ir lá
E o trancar no porta-malas
Porque faltou com respeito
A um povo honesto e direito


O respeito é importante
Que deve ser praticado
Temos os nossos direitos
Pelas leis assegurados
Mas tem gente que não entende
Ô povo pobre e coitado!


Indivíduos desonestos
Cheios de si e vaidades
Vão passando pelas ruas
Deixando suas maldades
Desrespeitando o que é do povo
Passando por cima da sociedade

É assim que muitos veem
Os patrimônios da cidade
Só porque não lhes pertence
Fazem estragos e maldades
Se não preservam o que é do outro
Há respeito de verdade?

PAUTA PARA O BLÓÍNQUÊS: 40ª EDIÇÃO POEMAS
.Tema: Respeito


DE UM JEITO DIFERENTE

Minha irmã sempre gostou de ver o mundo com outros olhos, e por um ângulo diferente. Enxergava as coisas, pessoas e situações de um modo que ninguém mais poderia fazê-lo. Aos três anos de idade, um acidente em casa com produtos químicos fez com que ela perdesse a visão em um dos olhos. Permaneceu desmotivada da vida por um tempo, e já não via graça em muita coisa na vida.
Tivemos uma ideia: dar-lhe-íamos uma máquina fotográfica, para ensinar a ela que poderia ver o mundo e a vida de um jeito especial. Assim o fizemos e logo ela gostou tanto da aventura que se fazia fotógrafa em todos os ambientes. Por questão de apoio e aprendizado, comprei uma máquina para mim, e ela me ensinou como manuseá-la. Saíamos juntos a registrar as coisas belas da natureza, e sempre guardávamos para a posteridade.
Na estrada que vai da nossa cidade até a casa da nossa avó tem uma paisagem maravilhosa, com muitos animais, alguns até raros, ainda preservados. Outro dia, passando por lá, avistamos uma ararinha azul, ave que já se encontra em extinção. Aí minha irmã pediu que a gente parasse ali, no meio do caminho, para que ela pudesse registrar esse eterno momento. Concordei com a proposta e ela logo saltou do carro, sem me esperar, porque não poderia perder aquela oportunidade. Vi que outras pessoas estavam no local também. Uns observando e admirando, outro fotografando.
A foto mais espetacular da minha vida foi nessa mesma estrada. Minha irmã pôs-se alegre à beira do caminho, e como podem ver na foto que tirei, ela ficou tão radiante com a novidade do pássaro que deitou-se ao chão, curvou um pouco a cabeça para trás e, de cabelos soltos e pernas pro ar, fotografou enfim aquela ave rara. Mais rara foi essa foto. Simplesmente única. Inexplicavelmente linda. Acho que ela fez isso, porque, além de muito feliz, não sabia que eu estava com a máquina fotográfica na mão. Não hesitei o instante e registrei, eternamente, um pequeno exemplo de que minha querida irmã, de repente, havia mesmo aprendido a olhar a vida de um jeito todo diferente!

pauta para o bloinquês:
70ª Edição Visual - Projeto Bloínques.

domingo, 15 de maio de 2011

A ÚLTIMA DANÇA



Meu corpo em seu corpo
Dois passos para trás
Num baile teimoso
Que não acaba mais.


Meu fim está próximo
Me dê sua mão
Depois da meia-noite
Serei ilusão.


Repita comigo
A última dança
Com passos contados
Inocente criança.

Não vês que me perdes
Não sabes que me perco
Num poço profundo
Na dança do beijo.

Sejam minhas as tuas pernas
Sejam teus os meus anseios
Valsando nossa última dança
Como dançam teus seios!

Meus passos incertos
Quereres encobertos
Em teus braços criança
Em nossa última dança!

Pauta para o bloinquês, 39ª EDIÇÃO POEMAS Tema: Dança

O SORRISO DE UM ANJO


Thaís era uma menina meiga que alcançava a idade de 12 anos. Seu amigo inseparável desde os seis anos de idade, Rodrigo, precisou se afastar dela para fazer um tratamento contra o câncer, que lhe afetava o pulmão. Ele tinha a mesma idade que Thais. A mãe de Rodrigo fumava e bebia desde a gravidez, e não parou nem mesmo quando seu filho nasceu.
Numa noite de chuva o menino acorda com muita dificuldade de respirar, sentindo muita dor no pulmão direito. Seus pais o levam desesperados ao hospital. Vem a triste notícia de que ele desenvolveu câncer de pulmão, o mesmo estava em fase avançada. Já tivera outras crises, mas nada grave, que motivasse exames específicos. Silenciosamente aquele menino aparentemente saudável tornava-se cada vez mais deprimido.
Passados dois meses, o cabelo de Rodrigo havia caído totalmente, e sua aparência nefasta era mais que isso. Não sorria. Todos os dias chorava. A única companhia de que poderia dispor era a amiga Thais, que ficava horas conversando e brincando com ele, numa frustrada tentativa de animá-lo a seguir com o tratamento.
O tratamento quimioterápico não fazia progressos, e a mãe também não dispunha de motivos para sorrir, culpando-se a cada segundo pela bruta irresponsabilidade de não ter cuidado direito da saúde de seu filho, entregando-se com mais amor aos vícios do que à sua prole.
Quando chegou ao hospital, Rodrigo não tinha recebido nenhuma visita. Nem mesmo de Thais. Ela foi uma semana depois, tão logo seus pais permitiram. Rodrigo esboça um primeiro sorriso. E o último que entregaria à amiga e aos seus pais dali em diante.
Thais passava o tempo pensando numa maneira de fazer seu melhor amigo sorrir e ter esperanças de cura. Ah! Se fosse descoberto a tempo... Aquela menina contemplava seu amigo de um jeito diferente. Seria amor? Não sabiam o que era aquilo. Um sentimento de fraternidade? Talvez. É mais certo assim. Contudo, Rodrigo não via o tempo passar, mesmo em tão bela presença. Thais – pensava ele – se eu tivesse tempo, lhe diria tantas coisas, muito lhe agradeceria.
Sem esperanças de alguma melhora, o menino recebe alta e vai para casa. Os pais tristes e inconformados. Ele, sem conforto algum.
De um estalo, Thais teve uma ideia. Quem sabe, se ele tivesse cabelo, ficaria mais animado, e não se envergonharia com sua aparência? Onde eu vou arrumar cabelo? – pensou. Ah, doarei um pouco do meu. Assim, ele sempre vai lembrar de mim! Vai ficar bonito! – disse, com lágrimas nos olhos. Sorria, enquanto cortava algumas mechas, escondida no banheiro da casa. Colocou-as no bolso frontal de sua roupa e pediu que os pais de Rodrigo o levassem para a sala. Seria uma surpresa. Nem os pais dele sabiam do que se tratava.
Quando Rodrigo e seus pais estavam chegando ao local combinado, sua amiga o aguardava. Os pais fizeram uma cara de espanto, misto de alegria e pergunta, enquanto o menino não compreendia nada. Ela pede que seu amigo tire o boné e coloca, carinhosamente, um pouco de seu cabelo na cabeça dele. Pronto, amigo! Agora poderá ficar mais bonito, e sair pelas ruas! Num gesto de retribuição, ele entrega a ela o boné, e os dois agora sorriem, pela segunda vez, desde que tinham conhecido um quarto de hospital.
Thais despede-se de todos, porque já era tarde. Abraça seu amigo e vai. Move a maçaneta da porta e olha, mais uma vez, aquele sorriso, eterno, inacabado. Fecha-se aquela porta e juntamente com ela muitas outras. Ao cair da noite, uma hora depois, ligam para a casa de Thais. Partiu para a eternidade aquele melhor amigo, que sorriu para ela, como num gesto de despedida, uma mensagem de adeus. Os pais de Rodrigo nunca mais foram os mesmos. Não viam mais a graça da vida, e Thais demorou muito tempo para se recuperar daquilo, mas sentiu que havia feito um anjo sorrir. Cumpriu sua missão.

                          Pauta para o bloinquês, 24ª edição roteiro