domingo, 21 de agosto de 2011

A NECESSIDADE DA FRAQUEZA DIANTE DE DEUS


 

Ouvimos de toda parte pessoas dizendo que não são nada, ou são menos que o nada, diante de Deus. Vamos pensar um pouco sobre esse assunto. Temos dois motivos para distinguir que foi o homem e não Deus que instituiu essa afirmativa. O primeiro deles, registrado pela religião, de que somos a imagem e semelhança de Deus; o segundo, que foi o próprio homem que, diante de Deus, afirmou a sua própria limitação e fraqueza.
Entendendo-se que, além de tudo, concebemos Deus enquanto necessidade do homem para explicar as coisas que existem e não são provindas do próprio homem, entendemos a idéia de fraqueza por dois motivos principais. O primeiro, justamente por conceber Deus o autor de acontecimentos que estão além da capacidade humana. Então somos mais fracos porque existe algo que estabelece coisas maiores que nós. É, portanto, um ser mais capaz que nós. Segundo, atribuir nossa fraqueza em relação a Deus é uma fonte de justificativa e apoio das nossas falhas. É uma necessidade psicológica e cultural. Um ser que nos compreenda e perdoe, e lance os dados para dar-nos mais uma chance de conserto das coisas.
Na essência, somos iguais a Deus, e ele nasceu a partir do nosso pensamento e necessidade de tê-lo. Fazer-se mais fraco do que a idéia que criamos é tão necessário para nós que instituímos tal fato como verdade absoluta, tanto que a própria idéia de Deus é a idéia mais forte da nossa mente. Até os ditos ateus pronunciam um “graças a deus” de vez em quando.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A INFINITUDE DE DEUS E A INPOSSIBILIDADE DE ENTENDÊ-LO




A reflexão que proponho hoje a meus leitores é a seguinte: do ponto de vista filosófico, num sentido mais amplo, o conceito trazido pela religião, sobre os atributos infinitos de Deus, poderia ofuscar nosso entendimento a respeito dele?
Talvez alguém vá pensar que eu seja um ateu confesso. Mas livro-me desse conceito por dois motivos: o primeiro é que, de acordo com Nietzche, a religião é mais importante do que não possuir religião nenhuma, porque tem-se posta uma ordem social com ela, que livra os seres humanos do caos, já que Deus é a ultima esperança de alcance dos seres humanos. O homem logo falha. Daí encontrarmos em deus a perfeição das coisas, e a esperança em um ser que, com certeza, nos ouvirá. Segundo, porque sempre necessitei de entendimento sobre as coisas não criadas pelo homem, que atingissem um patamar com alcance maior que o das ciências em geral.
Para começo de conversa sobre o tema, imaginemos que o infinito seja a nossa Via Láctea. Se o infinito precisa tomar conta da totalidade das coisas, um mínimo fragmento que lhe faltasse, retiraria do infinito essa propriedade; deixaria, portanto, de ser infinito. Se dele saísse para fora dos seus limites um grão de poeira, e pudéssemos conceber o vazio – sabendo-se que não o podemos – teríamos ali uma falha do infinito e, desse modo, o universo do nosso exemplo seria o todo sem a parte, e nenhuma delas – a parte ou o todo – seriam infinitas. Com esse raciocínio, se bem compreendido, poderíamos mencionar que seria muito difícil distinguir o nosso grão de areia, primeiro porque não se tornaria conhecido, tendo em vista de não ter se desprendido do espaço infinito em que estava e segundo, por estar mesclado a essas características do nosso exemplo de infinito. Não poderíamos, portanto, distinguir nem o grão de areia e nem o universo que o continha, porque eram os mesmos em si.
Agora eu pensei numa estória da chama de luz que, vivendo em meio à luz, não poderia ver-se e distinguir-se da luz. A chama vivia na luz, porque era a própria luz. Separando-se, retirou-se para a escuridão, e pôde perceber-se enquanto existência, e também notou que havia outra luz, que ocupava o infinito. Parece bem sensato inferir aqui a parábola de Deus e seu filho Jesus. Mas retornemos à segunda parte da discussão.
Faz-se pertinente explicar, depois de entendida a questão do infinito, porque essa idéia afastaria o entendimento completo de Deus. De acordo com o que já foi escrito, concebendo que Deus é infinito, então o mesmo ocupa todo o universo, que também é infinito, e tudo quanto nele há, primeiro por causa da idéia de que Deus criou tudo e todos, e do nada tirou o tudo; segundo, porque se tirássemos qualquer coisa do universo, este não seria mais infinito. A limitação do universo seria a limitação de Deus, que, portanto, seria finito.
Se Deus ocupa tudo, como poderíamos entendê-lo por uma oposição, sabendo que todo ele era tudo e uma coisa só? Claro deve estar que não estou negando essa idéia, mas que coloco em evidência o fato de que necessitamos, para entender um conceito, de outro que o oponha ou diferencie. Desse modo, o homem, ser finito diante do universo e de Deus, não pode conceber o infinito e nem a Deus. Mas ele pode, abstraindo-se do infinito, compreender a Deus pela diferenciação de si mesmo a ele, por dois principais motivos: o primeiro é que, saído do infinito e já limitado por si só – concebendo-o como ser separado da igualdade do infinito – poderia ver-se e caracterizar-se, para depois comparar-se com as características do infinito, que seriam logicamente distintas; depois, exteriorizando-se do infinito, este perderia uma parte de si, e seria, então, limitado. Sendo limitado o que antes era infinito, agora mais próximo do que é compreensível pelo homem, que é limitado e, desse modo, mais compreensível.
Assim, é necessário que o homem abstraia sua existência do infinito, como se estivesse olhando de fora, de cima, para que, aproximando Deus de sua natureza finita, e diferenciando-se dele por sua própria natureza, que já é limitada, possa entender-se e entendê-lo, e depois contextualizar-se no infinito novamente, para devolver a Deus a natureza infinita do qual é constituinte e ser, o homem mesmo, ser infinito, por estar impregnado de deus e este dele.