sábado, 23 de abril de 2011

A PROFECIA

I – A VISÃO*

Estava encostado num carro próximo ao meu local de trabalho. Era um dia normal. Cumprimentei a todos que passavam por mim, do jeito de sempre. Andei descuidado por esses dias e esqueci-me das unhas do pé. Alguém reparou. E fez um comentário em mal tom. Fiz de conta que não ouvi, porque estava pensando em algo. Longe, muito longe. É porque tive uma visão. Fiquei parado contemplando. O que estou para narrar aconteceu dentro da minha cabeça, como se fosse um filme. As pessoas pareciam distantes, eu mais ainda. Conto o que vi.

II – AS DUAS TORRES**

Primeiro observei duas torres muito altas, que tocavam o céu. No início, não consegui descobrir quais eram essas torres, e porque estavam em minha mente. Ouvi uma voz muito forte, também alta, que vinha do lado direito de onde eu estava. Falava em língua diferente de tudo o que já ouvi, mas eu compreendi as suas palavras. Não pude ver seu rosto, mas percebi uma luz muito intensa, de cor azul, vinda do mesmo lugar dessa voz. Perdi a noção do tempo, não sei o quanto fiquei ali até recobrar a consciência. Quando acordei, estava só, e continuava de pé. Olhei no relógio, e marcava quatorze horas, justamente a mesma de quando cheguei. Possivelmente tenha começado a ter essa experiência nessa hora, quando falavam comigo.


III – A PROFECIA


Parece estranho falar em profecias, num tempo em que os bíblicos negam qualquer possibilidade de mensagem post-mortem de cristo. Não devo demorar em explicações. Creio que todos saibam quem ele foi e é. As novas religiões acreditam que as comunicações nunca foram interrompidas. Seja assim ou não, disse-me o seguinte aquela voz da qual falei mais cedo: “Aquilo que estiver visto será coberto, e o que está coberto poderá ser visto do outro lado do mundo; o que está embaixo ficará mais ainda, e o que estiver em cima baixará à terra; mas o que estiver em cima se salvará, e o que ficar embaixo perecerá” antes que eu pensasse sobre isso, dirigiu-me outra vez a palavra: “terás um sinal, e não verás; soará uma voz, e não se ouvirá; a salvação estará nas montanhas, e a perdição estará em todo o lugar; no entanto, uma voz se levantou muito forte e ganhou o direito de escolher. Se ouvirem a voz, estarão a salvo, senão, hão de se perder muitas almas.”


IV – EU ENTENDI


Antes mesmo de eu pedir explicações, compreendi tudo. As duas torres não eram torres. Eram exatamente duas serras próximas, uma na nossa cidade, outra em cidade vizinha. Toda a terra vista seria coberta pelas águas, que era o invisível, que seria visto. Seria de tal forma que muitos veriam de longe. As montanhas (serras) eram a salvação. Todos deveriam ir para lá. E o que lhes conto daqui em diante compreendi dois dias depois: sobre as águas, porque se preparava uma tempestade muito grande; sobre o sinal, que era a mesma chuva; sobre a escolha, que era minha visão; sobre a voz, que me pertencia.


V – ALGUNS DIAS ANTES


Entendi em meu coração que havia uma coisa inexplicada no ar. Em poucos dias algo muito importante aconteceria. Foi sempre assim. Eu sentia, depois sabia; antes de tudo sonhava. Não desta vez. Foi mais forte agora. “Vi em sonho um navio muito grande, desproporcional, que navegava sem rumo. Lá dentro, toda sorte de animais e pessoas. Uma cruz invertida, no meio do oceano, que as águas eram muito altas, e passavam dos céus. Em seguida caiu do céu outra cruz, na posição correta, apontando para cima. Havia alguém crucificado. O navio então se orientou por ela, que lhe parecia uma bússola. Dois mil anos depois as águas haviam baixado muito, e as pessoas que moravam no navio estavam velhas demais, e cultuavam deuses estranhos, com cruzes invertidas, e tinham na testa a marca de um sete invertido, que era muito fundo. De repente, um grande trovão quebra o silêncio de dois mil anos, e revela coisas, mas nem todos ouvem, porque estavam ocupados demais com a luxúria, o sexo exacerbado, a alta dos impostos, a bolsa de valores, os novos pecados que não existiam ainda, o consumo excessivo de bebidas, comidas e tabaco. Também estava surdo quem zombava da igreja de cristo, e criticava os irmãos, esquecendo de praticar o amor e a caridade. Eram poucos os que ouviam, e menos ainda os que davam importância ao trovão. Muitos choravam porque não entendiam, outros porque não ouviam”. Então, eu acordei.


VI – NESSA MESMA HORA


A ultima visão não foi mais do que a lembrança da primeira, e a revelação de que se aproximava o caos. Decidi esperar para ver o que acontecia, mas em meu coração estava preocupado. Alguns dias se passaram ainda, depois da segunda revelação. Logo, aconteceu.

VII – O VELHO E O NOVO

Merece uma explicação, o sonho que lhes contei. Mais tarde, será correto saberem o motivo destas coisas que retenho em palavras escritas. A cruz invertida significa todo o pecado desde adão até os tempos de Noé; as águas e a barca referem-se à aliança entre Noé e Deus, e a nova humanidade. A outra cruz com o crucificado em forma de bússola é Jesus crucificado por nossos pecados, e que orientou a humanidade para os caminhos de Deus. Dois mil anos depois, as pessoas estavam muito esquecidas de Jesus, e dos planos dele, e se distanciaram de Deus com suas práticas egoístas, e por isso explico as águas que baixaram muito. A voz em forma de trovão era uma reação a tudo aquilo, era a mesma voz que ouvi na segunda visão.



VIII – O INVISÍVEL VISÍVEL

A cidade acordou naquela segunda-feira sem perceber nada de anormal. Nem eu havia dado conta de imediato. Observei o céu à procura de alguma coisa que não sei. A chuva fina caia intrépida, há três dias, e o sol permitia, ao final do dia, um laranja triste, meio acobreado, e o fim da noite era trocado por um amarelo queimado meio sem graça. Era esse o sinal. Ficou do mesmo modo por sete dias. No sétimo, deu-se a catástrofe. Lembrei do número invertido em muitas frontes, e que agora se mostrava em sete dias. O sinal do caos era esse: sete dias se passariam, até que viria o dia em que o invisível se tornaria visível. O número invertido indicava a perversão de tudo o que era divino, e o sétimo dia concretizou o que chamei de “escolha”. Nesse dia, triplicou a queda das águas, de tal maneira que rapidamente as saídas não davam conta de escoá-las. Vi, ao meio-dia, carros boiando, o lixo sendo levado pela correnteza. Daí me dei conta de que estava com água até os joelhos. Acordei do sono. Aquela era à hora, a voz que poderia salvar.


IX – AS DUAS TORRES

Saí num pulo e deixei tudo para trás, e não retornei por um grande espaço de tempo. Vi pessoas correndo, outras chorando, muitas tentando salvar o que estava perdido. Apontei para as montanhas e disse que deveríamos ir para lá. A chuva aumentou muito nessa hora, como se fosse um aviso, ou um medo. Lembro que muitos correram para onde indiquei. Não olhei para trás. Quando percebi, já estava lá, nas montanhas. Muitos não ouviram, mas os que ouviram se salvaram. De lá, vi algumas embarcações, que vendiam alimentos, e duas mulheres nuas, em outra barca, que logo depois soube que ficaram debaixo das águas. Eram duas cafetinas. Dois dias depois, as águas baixaram, e pudemos descer. Nos alimentamos de frutos silvestres, e de animais. O céu estava limpo, e não ameaçava outra chuva. Sonhei com este pequeno livro, e em muitos lugares ele foi queimado. Publiquei mesmo assim. Ele contou os fatos que tomaram um quarto do globo terrestre, e levaram embora as minhas visões proféticas. Para sempre.


A PARTILHA

José e Maria tinham cinco filhos, muito amor para dar, mas pouco pão a oferecer. Os filhos, ainda pequenos, choravam de vez em quando, a fim de denunciar a todos que ali havia cinco novas vidas. Maria cuidava da casa enquanto José, desempregado devido à falência da sua empresa, vivia de bicos e doações dos visinhos e amigos.

José sempre foi uma boa pessoa, generoso com todos, nunca negava pão a quem lhe batia à porta. Maria, sempre generosa, estava disposta a ajudar a qualquer necessitado que precisasse. Mas a pobreza abalou o marido de tal forma que ele ficou abatido e desgostoso com a vida, e já não ajudava aos outros como antes. A fé de Maria jamais foi abalada; se tinha hoje dois Pães, dava metade a alguém que lhe pedisse. José sempre a repreendia por isso, mas ela dizia que Deus daria um jeito naquela situação.

Foi quando, uma noite muito chuvosa, aparece uma mãe desesperada batendo à sua porta, pedindo dez reais para completar o dinheiro e comprar o remédio do filho de um ano, que sofria bastante do coração, e precisava do remédio com urgência, pois estava à beira da morte. Sem hesitar, Maria dá os dez reais àquela desconhecida, que num instante ficou agradecida. Maria jamais esquecerá o brilho daqueles olhos. Ela entregou justamente o único dinheiro que tinham para comprar o alimento da semana. José ficou contrariado com aquilo, mas acabou se conformando.

Acabaram dormindo ao cair da noite, eles e os filhos; não pelo sono, mas pela fraqueza da fome. Passava da meia-noite quando Maria acordou com o choro de um dos filhos. Era o desespero da fome... Qual não foi a sua surpresa ao ver a mesa repleta de alimentos! Instantaneamente Maria acordou José. A única coisa de que Maria lembrou, além de agradecer a Deus, foi daquela mulher misteriosa, que o tempo não fez esquecer o brilho daqueles olhos. Aquela mulher nunca mais foi vista, nem souberam noticias a respeito do menino enfermo. Os visinhos não se recordavam dela, dizendo jamais ter visto tal figura pela redondeza. E tiveram novamente fartura. E José aprendeu o dom da PARTILHA

A PENA DA PENA DO POETA


Pode o poeta escrever às duras penas
As penas que pena na vida;

Pode o poeta ver o penar de outrem

E escrever sem contar a ninguém

Que a pena penou escrevendo

Um suspiro que não era seu;

Pode a pena que escreve

Imaginar situações diversas

Que o poeta não viu e não viveu,

E fazer pena descobrir

Se é do poeta a pena,

Ou se a pena

Não é da pena

Do poeta que pena!